Assim como escolas, restaurantes, centros comerciais e outros locais de aglomeração de pessoas, os museus ao redor do mundo tiveram que fechar as portas com a chegada da Covid-19. Hoje, algumas cidades, onde as taxas de contágio diminuíram significativamente, estão se preparando para a reabertura das atividades consideradas não essenciais. Como parte deste grupo, os museus, que durante o período de isolamento buscaram novas formas de se conectar com o público à distância, devem agora se adaptar a uma nova forma de receber os visitantes.
Para promover uma adequação das atividades museais neste momento, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) lançou algumas normas para reabertura das instituições culturais após a pandemia, entre as quais estão: o uso obrigatório de máscaras, a limpeza constante dos ambientes e maior controle do acesso do público, por exemplo, com venda antecipada de bilhetes. Mas como a arquitetura e os espaços expositivos podem ser adaptados para este momento de retomada e, talvez até mesmo repensados para o futuro?
Guias e propostas de projeto para transições pós-pandemia já foram lançados por alguns arquitetos e escritórios de arquitetura no intuito de investigar soluções arquitetônicas que proporcionem a volta às atividades de maneira mais adequada em uma situação com a qual, de forma geral, estamos pouco habituados.
Com uma resposta similar, voltada desta vez aos museus, o Isometric Studio, que trabalha com “identidades visuais e experiências espaciais”, lançou um guia de recomendações com propostas “subjetivas” baseadas nas informações mais recentes sobre a saúde pública. Algumas das medidas (que não devem ser consideradas substitutas das recomendações oficiais) são:
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Repensar o design das exposições para manter a distância ideal entre as pessoas;
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Criar uma comunicação visual que oriente o fluxo do público nos seus espaços internos;
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Priorizar a circulação em direção única;
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Dividir as escadas a partir dos fluxos (ascendente/descendente);
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Promover exposições em espaços externos;
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Expandir as interações online.
Outra proposta sugerida pelo estúdio é o controle da circulação de ar nos espaços internos dos museus e galerias. Como locais de acervo, que muitas vezes demandam um controle de temperatura para conservação das obras expostas, muitos museus não estão adaptados para a abertura de janelas. Por isso, uma possibilidade é instalar novas tubulações para promover a troca de ar, ou adaptar as existentes para essa função.
Na Europa, onde alguns países foram fortemente impactados com a crise do coronavírus inicialmente, e agora apresentam uma diminuição significativa no número de contágios, os museus começaram a ser reabertos no último mês. O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, por exemplo, abriu as portas novamente em 10 de junho com a intervenção Beeline, por SO-IL e com uma nova comunicação visual feita com tijolos e espelhos para sinalização de percursos e recomendações de higiene.
Mas, enquanto museus que costumavam abrigar um grande público se veem diante da necessidade de controlar o acesso, outros podem nem ao menos reabrir as portas, como indica uma pesquisa realizada pelo ICOM, que analisou a situação de museus em 107 países.
De acordo com a pesquisa, 94,7% dessas instituições tiveram que interromper as atividades presenciais durante a crise. O estudo aponta que deste número, 13% estão em risco de não reabrir após a pandemia, devido ao prejuízo causado pelo fechamento. Em sua maioria, esses museus estão localizados na África, Ásia e nos países árabes, onde, respectivamente, 24, 27 e 39% dos museus abarcados pela pesquisa estão em risco de fechar permanentemente, o que indica uma disparidade de cenários enfrentados pelos museus ao redor do mundo.
O processo de readaptação às atividades é delicado após um período de grandes perdas e instabilidades sociais, econômicas e sanitárias. Além disso, cada localidade está inserida em uma realidade específica, que é determinante para as decisões de reabertura. Porém, os guias e exemplos bem sucedidos de outras instituições podem servir de exemplo para estratégias de reabertura, e a arquitetura pode ter um papel fundamental nesse sentido.
Assim, os planos de reabertura, unidos a projetos expositivos e à comunicação visual, podem contribuir para manter os museus como locais que desempenham um papel de aprendizado, convivência e difusão cultural, cuja importância é ressaltada em um cenário de recuperação.
A recuperação de nossas economias e o processo de cicatrização das nossas sociedades após a COVID-19 será longa e complexa. Museus, como protagonistas-chave no desenvolvimento local e como lugares incomparáveis para pessoas se encontrarem e aprenderem, terão um papel importante a desempenhar na reconstrução da economia local e na reparação social das comunidades afetadas. – International Council of Museums (ICOM)
De forma geral, as estratégias que estão sendo adotadas pelos museus são baseadas em um mesmo princípio: o controle do público. Assim, museus que atraem milhões de pessoas ao ano, como o Museu do Louvre, em Paris, são agora palco de um cenário bem diferente. Os visitantes, que antes costumam ficar muito próximos uns dos outros para conseguir ver de perto a Mona Lisa, agora devem esperar em fila para ficar frente a frente à obra, além de adquirir o ingresso com antecedência para um horário específico.
Convidamos você a conferir a cobertura do ArchDaily relacionada ao COVID-19, ler nossas dicas e artigos sobre Produtividade ao trabalhar em casa e aprender sobre as recomendações técnicas para criar uma arquitetura saudável em seus futuros projetos. Além disso, lembre-se de revisar os conselhos e informações mais recentes sobre COVID-19 no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).